ensaio

Javier Marías, Balzac

Posted in Ensaio by antoniomarcospereira on junho 12, 2011

Hoje ia fazer uma prova sobre a trilogia do Javier Marías – que, como vocês sabem, não li. Não tinha medo: planejava improvisar, usando o que já li do Marías mais o que já li sobre, achei que com isso ia dar conta.

Cheguei e, como de costume, havia toda aquela liturgia na biblioteca, a arrumação dos dias de exame, o silêncio. Quando estava já pra começar a escrever, entrou no salão um homem de uniforme, um guarda, e trocou algumas palavras com o supervisor que, imediatamente, apontou para mim, assentindo com a cabeça. O guarda se aproximou, me abordou, confirmou meu nome, e me disse que eu precisaria retirar meu carro, que estava obstruindo o trânsito.

Obviamente, me atrapalhei, me esbafori e me apressei, saí correndo para tirar o carro logo e voltar o quanto antes, a tempo de ter tempo para fazer o exame. Mas ao retornar a biblioteca parecia ter se desdobrado em várias outras, uma infinidade de salas e corredores e escadarias semelhantes que nunca me levavam à minha sala, ao salão de onde eu tinha saído, onde me esperava meu supervisor, meus colegas e, em minha mesa, minha folha de exames com meu nome, minhas canetas, tudo de que eu precisava para escrever minha dissertação sobre a trilogia de Marías. Perguntei a uma pessoa que lia no corredor sobre o teste e ele fez um gesto em direção a uma sala e me disse Aqui é sobre Balzac. Caminhei mais, a luz baça dos vitrais no corredor, apertei o passo para alcançar uma moça que caminhava à minha frente e perguntei a ela sobre a prova e ela disse Eu também tô indo pra lá, tô atrasada, é no salão, sobre Balzac, não é?